durante a pandemia

Levantamento aponta 4 mil demissões em 30 dias em Santa Maria

18.302

data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Pedro Piegas (Diário)

Celebrar o Dia do Trabalho desde 1º de maio de 1886, talvez nunca foi tão difícil quanto em 2020. Com a pandemia do novo coronavírus, a crise da saúde desdobrou-se em crise financeira. O resultado parcial é de empresas e vagas de emprego fechadas, bem como trabalhadores autônomos e informais com atividades interrompidas.

- Toda a atividade econômica foi afetada em cadeia de modo que a recuperação será lenta. Segue o caminho do vírus. Ninguém escapa da tragédia. Santa Maria também vai ter "o pior ano de nossas vidas". Menos mal que existe um alto contingente do funcionalismo público que gasta aqui a sua renda e ajuda o comércio a sobreviver - explica o economista José Maria Dias Pereira.

Algumas estatísticas ajudam a ilustrar esse cenário. Um levantamento feito pela Câmara de Comércio e Indústria de Santa Maria (Cacism) apontou que pelo menos 4 mil pessoas foram demitidas na cidade nos últimos 30 dias. As informações foram fornecidas por seis empresas especializadas em Medicina do Trabalho, que fazem exames demissionais. O nome das empresas foi mantido em sigilo.

Pesquisa da UFSM avalia a mudança na situação financeira das famílias durante a pandemia

O quantitativo de desempregados ainda é incerto e, segundo entidades e economistas, seguirá crescendo. Nesta conta, não estão incluídos os serviços informais e trabalhadores que tiveram contratos temporariamente suspensos, já que o retorno às vagas não é garantido.

- São números arredondados para baixo. A gente está falando de empresas que cumprem a legislação, pois os números saltarão. A informalidade também contribui. A cada 10 postos de trabalho, no mínimo dois são informais. A questão dos contratos temporários é complexa, pois tem empresa que não tomou a medida mais drástica, tomou a intermediária. Mas, se a situação financeira não melhorar, o que farão com esses funcionários? Vagas também poderão ser extintas daqui uns meses, pois, se as empresas perceberem que fazem com sete trabalhadores, o que faziam com 10, será difícil repor - analisa Luiz Fernando Pacheco, presidente da Cacism.

As perspectivas também são desanimadoras para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Hoteleiro, Restaurantes, Bares e Similares, Rejane Cabral. Ela diz que já são mais de 200 contratos suspensos, 80 pessoas com redução de salários e 400 demissões:

- Tivemos restaurante e agências de turismo fechadas, o que respingou na rede hoteleira. Se não há viajantes, não há hóspedes. O sindicato está trabalhando só pela manhã e de portas fechadas, atendendo por agendamento. Há outros casos que chegam. Só hoje (terça-feira), funcionários de três empresas denunciaram que não receberam seus salários, desde que houve mudança para o sistema de delivery. Outras empresas demitiram, mas não pagaram os benefícios e não dão previsão de pagar. E como o Sine está fechado, dificulta o encaminhamento para o seguro-desemprego.

Mais de 32 milhões de pessoas foram inelegíveis para o auxílio emergencial

Outro sindicato, o dos Empregados do Comércio, prevê no mínimo 100 demissões nos próximos dias. O fechamento de lojas de shoppings também preocupa, segundo o presidente Rogério Gomes dos Reis. 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Arte: Paulo Chagas

QUEDA NAS VENDAS
Segundo Marli Rigo, presidente da Câmara de Dirigentes Lojstas (CDL), a queda de vendas gira em torno de 80%. Já o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria (Sindilojas) estima que 50 estabelecimentos do ramo do varejo podem fechar em maio.

- O varejo é o setor de maior concorrência na cidade. Empresas que já não andavam bem, estão desacreditadas. Na prática, também não estão claros os riscos da linha de crédito do governo para quem está com CNPJ negativo, por exemplo - conta o presidente do Sindilojas, Ademir José da Costa. 

CONTRATO DE EVERALDO ESTÁ SUSPENDO POR DOIS MESES
Em 34 anos rodando a cidade dentro de um ônibus, primeiro como cobrador, depois como motorista, é a primeira vez que Everaldo Alves do Nascimento, 48 anos, vê ele e outros colegas em casa há cerca de um mês. Ele não foi demitido, mas está em isolamento social, além de cumprir o contrato suspensivo de dois meses feito com a empresa onde trabalha.

- Comecei com 14 anos. Na época, podia trabalhar com essa idade. Já vi tudo que é crise, mas de abalar a economia e o psicológico da gente desse jeito, nunca. Estou esperando para receber o primeiro salário nesse contrato, que, no meu caso, é pago 30% pela empresa e 70% pelo governo.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: Renan Mattos (Diário)

Nascimento é funcionário da Expresso Medianeira e, nos últimos 10 anos, responsável pela linha Passo das Tropas. Pouco antes do isolamento, testemunhou a preocupação dos passageiros e o cenário de incerteza.

- A gente acaba conhecendo todo mundo, ouvindo todo mundo e fazendo amizade, sabendo do desemprego para muitos. Mas temos que pensar também que esse coronavírus chegou para mostrar alguma coisa para gente. Está provado que não adianta pensar no próprio umbigo. É preciso se ajudar, ter mais empatia que simpatia. Eu tenho casa própria, mas tenho colegas, guris novos, que pagam aluguel, luz e água para pagar, que tem filho. Fizemos até cesta básica para ajudar. Está difícil - conta.

A esposa de Nascimento está empregada. É terapeuta ocupacional e trabalha em outra cidade da região. Contudo, o casal alterou a rotina e passou a conter gastos.

- Nos cuidamos muito, minha esposa está na linha de frente, atendendo pessoal, e espero que se mantenha saudável. Tenho uma filha e me preocupo em garantir a pensão dela. No mercado, estamos comprando o essencial, sem as frescurinhas, como a gente diz. As empresas estão apavoradas, os empregados estão apavorados. Agora é focar no básico e na saúde, pois não se sabe o que vai acontecer quando voltarmos - relata.

VÍDEO: empresa fotográfica de Santa Maria lança vitrine solidária

Conforme Victor Saccol, diretor da Expresso Medianeira e presidente do consórcio Sistema Integrado Municipal (SIM-SM), 50% dos 500 funcionários da empresa estão em casa, com contrato suspensivo de dois meses.

- Ainda não tivemos demissão, mas a situação não está resolvida. Essa crise vai longe ainda e temos que aguardar - resume Saccol. 

SEGUNDO ADVOGADO, BENEFÍCIOS SÃO PALIATIVOS
Luciano Da Cas Sima é advogado trabalhista e vê um cenário de apreensão em relação à saúde financeira, continuidade de negócios e permanência de empregos.

- O governo está fazendo o que pode para amenizar os impactos danosos da pandemia na economia, seja mediante a liberação desse auxílio de R$ 600, mesmo sem comprovação de perda de receita, em razão das regras de distanciamento social, que era a ideia inicial. Há também o pagamento do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda nos casos de suspensão temporária do contrato de trabalho e redução proporcional de jornada e salário, previstos na Medida Provisória 936, de 1º de abril. No entanto, entendo serem medidas paliativas, ou seja, amenizam os impactos, mas não resolvem o problema - relata.

O advogado explica sobre as possibilidades a partir MP 936 e do cumprimento de alguns requisitos. É que frente a acordos individuais (empregado e empregador), os contratos de trabalho podem ser suspensos pelo período de até 60 dias, e os salários pagos pelo governo, bem como a jornada de trabalho reduzida em 25%, 50% ou 70%, com diminuição proporcional dos salários. A diferença também é paga pelo governo.

- É triste não só ver empresários desligando pais e mães, jovens em início de carreira, muitas vezes sem sequer dispor de recursos para pagar as parcelas rescisórias, como é preocupante demais temer pelo sustento dessas famílias. Alguns segmentos estão sendo menos afetados que outros, como a indústria alimentícia e supermercados, por exemplo, mas também enfrentam problemas. Certo é que os prejuízos são imensos. 

APÓS 21 ANOS, ANGELA TEVE DE CUMPRIR AVISO PRÉVIO
Foram 21 anos trabalhando como camareira em um motel da cidade. Na última quarta-feira, Angela Gomes, 48 anos, teve de cumprir seu último dia de trabalho. Ela estava em aviso prévio. Junto de algumas colegas de trabalho, ela diz que foi um dia de despedida e preocupação. O local que teve queda significativa no movimento também sentiu os reflexos da crise e a atual administração ainda passa por mudanças. 

Prefeitura garante pagamento em dia do funcionalismo até dezembro

Angela, casada e mãe de quatro filhos, complementava a renda com a comercialização de cosméticos vendidos por catálogos. Ela também é aluna do curso de Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Está no início da faculdade, e sem previsão de estágio, teme recolocar-se no mercado de trabalho. 

- Estou muito preocupada, pois vai começar a faltar dinheiro até para ir na padaria. Vão comprar só o essencial. Eu também penso na minha idade. Não é fácil, sei que tem muitas firmas que fecham as portas para a gente por conta disso.

MESMO COM SINE FECHADO, DÚVIDAS DO SEGURO-DESEMPREGO SÃO A MAIOR DEMANDA
Embora as portas estejam fechadas para o atendimento ao público, desde 23 de março, a agência do FGTAS/Sine em Santa Maria registra uma procura intensa da população pelo e-mail, WhatsApp e ligações.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: Pedro Piegas (Diário)

São informações em relação a vagas, disponibilidade de cursos e dúvidas sobre seguro-desemprego. A última lidera as solicitações. Em cerca de 30 dias, a agência local recebeu 1.800 e-mails, 900 ligações de WhatsApp e 390 ligações para o celular.

Na percepção do atual coordenador André Domingues, uma situação diferente pode surgir após a pandemia.

- O contexto é uma sociedade em risco, pois estamos em uma crise por imprevisibilidade. O indicativo é que pessoas com maior qualificação e que perderam seus empregos possam disputar vagas que antes eram descartadas por elas - explica Domingues.

Até 6 de maio, Agência FGTAS/Sine seguirá com atendimento por teletrabalho e/ou atendimento remoto.   

Informações

  • E-mail - [email protected]
  • Celular - (55) 98423-6129
  • Fones - (55) 3222-9005 e (55) 3217-4221

DESEMPREGO NÃO VAI AFETAR TODOS OS SETORES DA MESMA FORMA
Segundo o Boletim Semanal da Receita Estadual, que leva em consideração a emissão de notas fiscais do Estado, o setor de medicamentos cresceu (+55,4%), materiais hospitalares (+55,5%), material de higiene (+50%), e alimentação (+9,3%). Conforme o secretário de Finanças do município, Mateus Frozza, com base nesses dados é possível especular que as altas na geração de emprego podem estar concentradas nestes setores, por mais que seja, um dado estadual, mostra uma tendência de consumo e consequentemente de empregos. 

- Chamo atenção para a alimentação. Este resultado é baixo. O que de fato está acontecendo é que as vendas em delivery aumentaram, mas o que emprega são os atendentes, a limpeza do local. Hoje, o empresário age de forma racional, se tiver que abrir e contratar quatro atendentes e mais a limpeza e ainda correr o risco de ninguém aparecer, prefere vender por delivery - explica.

Já com relação às quedas no Estado estão os segmentos de vestuário (-82,8%), acessórios (-81,8%) e calçados (-76,9%). Frozza observa que Santa Maria deve seguir com um cenário semelhante junto de outros setores:

- Eu acrescentaria vendas de automóveis, motocicletas e peças. O desemprego deve estar concentrados nesses setores. No município, vamos esperar fechar o mês, para filtrar esse dados, pois para nós é mensal, já o Estado consegue fazer a cada 15 dias.

Entre quedas e eventuais vagas, Frozza também chama a atenção para o surgimento de negócios motivados por necessidade e não por oportunidade e planejamento.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Mega-Sena acumula e próximo prêmio será de R$ 50 milhões

Calendário da 2ª parcela do auxílio emergencial sai na próxima semana Próximo

Calendário da 2ª parcela do auxílio emergencial sai na próxima semana

Economia